Visitar exposições de Andy Warhol é sempre muito atual. Algo que poderia apresentar-se como antiquado e ultrapassado, como as descartáveis fotos instantâneas, ressurgem em formas digitais e dão um tom absolutamente contemporâneo a mostra.
Sou para você o que gostaria que você fosse para mim
Refletido no espelho, Andy Warhol vê sua vida e sua obra. Seus dias e suas noites são parte do seu trabalho tecnológico como talvez em nenhuma outra obra de um artista de seu tempo. Warhol queria ser uma máquina e produzir um trabalho sobre e para a cultura americana de massa, e lançou uma pergunta sem respostas sobre o conjunto da sua obra que até hoje os Estados Unidos procuram entender realmente do que se trata nas páginas da sua história. “Quem sou eu?” perguntou Warhol, e ele mesmo respondeu com uma versão coloridíssima de uma lata de sopa Campbell. A exposiçãoAndy Warhol Superfície Polaroides (1969-1986) nos mostra, em trezentas imagens, uma significativa parte do processo de trabalho e da construção das imagens pública e privada de Warhol. Toda a série de polaroides que ele fez em seu estúdio ou nos registros produzidos nos encontros e nas noites por onde andou era o mais ou menos o que os paparazzi ainda procuram nos dias atuais. Mas, então, qual é a diferença? A diferença é, antes, quem estava atrás e na frente da câmera. E, hoje, quem está atrás e na frente das bilhões de câmeras espalhadas pelos quatro cantos da Terra, onde toda a humanidade é fotógrafo. Portanto, a diferença é: quem vê o quê?
Para chegar ao resultado final das suas serigrafias, Warhol fazia cerca de sessenta retratos usando uma câmera Big Shot da Polaroid. Depois escolhia quatro imagens e passava para o impressor de tela para obter imagens positivas em acetato. Quando os acetatos voltavam, ele decidia os cortes e os retoques, para fazer com que a pessoa se tornasse o mais atraente possível: alongava o pescoço, afinava narizes, aumentava os lábios. Era também o modo como gostaria de ser visto pelos outros e, assim, criar um mito para chamar de seu. As trezentas polaroides produzidas pelo artista entre 1969 e 1986 nos dão uma ideia desse seu modo de ver. Aqui estão os retratos de verdadeiros artistas, de celebridades descartáveis (e Warhol sabia como ninguém que celebridade com celebridade se vende, se paga e se joga no lixo), resquícios de objetos e composições, como os sapatos que marcaram a primeira fase de sua carreira, planos abertos de torsos nus, retratos 3 x 4 de personagens como Grace Jones e Lana Turner, exercícios de composições e sombras, como na imagem de Caroline de Mônaco, o corpo despido de Jean-Michel Basquiat fragmentado em detalhes e silêncio, os músculos iniciantes de Stallone e Schwarzenegger, o doce olhar de Muhammad Ali. Todos no mundo de Warhol, que os mantém vivos no mundo de hoje. Todos em pequenas polaroides. Na superfície atemporal que o artista dizia ser fundamental para reconhecê-lo. Na superfície das palavras e obra de “um herói cultural” que, nos momentos de introspecção, era capaz de elucubrar: “Quero inventar um novo tipo de fast food e estava pensando como seria uma coisa de waffles que tenha a comida de um lado e a bebida de outro – como presunto e Coca-Cola. Você poderia comer e beber ao mesmo tempo”.
fonte; http://www.mis-sp.org.br
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